Hoje recebi um e-mail de uma leitora do meu blog pessoal me perguntando se era seguro que ela viesse passear sozinha ...pelos Emirados Árabes. Também hoje, recebi uma mensagem de outra leitora que me questionou se eu faria uma viagem à Jordânia sozinha e o que eu achava da ideia. Coincidência? De jeito nenhum! Nós, mulheres, estamos ganhando o mundo. E se não tivermos quem nos acompanhe, estamos dispostas a ir sozinhas mesmo assim!
Porém, infelizmente, por sermos mulheres precisamos redobrar os cuidados ao viajarmos sozinhas. E isso não é diferente aqui no Oriente Médio ou nos Emirados Árabes Unidos, que apesar de ser um país muito seguro, possui uma cultura diferente da nossa em relação à mulher, especialmente solteira e/ou sozinha. Por isso, essas dicas que vou passar neste artigo podem te ajudar a se sentir mais segura e evitar problemas no país.
Vamos, primeiro, considerar que cada país do Oriente Médio possui um tratamento diferente à mulher, inclusive a que está viajando sozinha. Tenho alguma experiência com outros países da região, mas vou falar especificamente dos Emirados Árabes, que é considerada a “Las Vegas” do Oriente Médio. Isso porque, se comparado a outros países também muçulmanos, é bem mais liberal. O que não quer dizer que seja como a Las Vegas estadunidense também, viu?
Além do fator religioso e cultural, que jamais devem escapar da sua mente em uma viagem para cá, lembre-se que as leis também são outras e que por mais “absurdas” que muitas vezes pareçam, o seu papel é cumpri-las, apenas. Você, mulher solteira, não pode, por exemplo, dividir teto com outro homem que não seja seu familiar. Isso implica que, por lei, você não pode fazer um couchsurfing e se hospedar na casa de um rapaz desconhecido. Tampouco de um namorado. Como em qualquer parte do mundo, pessoas infringem a lei o tempo todo. Mas dizer que “pode ficar tranquila, não vai ter problema” seria irresponsável de minha parte. Meu papel é te dizer o que é “certo” de acordo com as leis do país em que vivo e a partir das experiências que vejo, se você opta por seguir um caminho diferente, a escolha – e consequência – é sua.
Eu recomendo, sim, que mulheres venham para os Emirados Árabes sozinhas. Tanto é que já vi e ouvi dezenas de casos em que elas vieram e não tiveram qualquer problema e fizeram uma viagem incrível e segura. Mas também já soube de outras que se meteram em confusões dignas de novelas mexicanas, como conhecer alguém na balada e ir para o apartamento dessa pessoa, ter relações sexuais (consentidas ou não) e serem denunciadas e presas por isso. Sim, além de não poder dividir o teto com um homem desconhecido, aqui, pela lei, sexo é somente para pessoas que estejam casadas e que sejam de sexos opostos (homossexualidade também é crime).
Ju Morais viajando sozinha pelos Emirados Árabes. Na foto, o Grand Mosque de Abu Dhabi. Foto: arquivo pessoal
Deixando um pouco de lado esse terrorismo de prisões e deportações, vamos falar de como viajar pelo país sozinha de forma segura, sem correr o risco de infringir a lei ou de cometer algum deslize que te deixe em situação embaraçosa. Se você já sabe que as leis daqui são diferentes e faz bem em respeitá-las, saiba também que o que se espera de uma mulher para a cultura local é que ela seja “discreta” em seu modo de agir e vestir, e que preserve os bons costumes. Isso implica que roupas muito sensuais e comportamentos tidos como “escandalosos” são mal vistos por aqui. Ficar bêbada na balada e sair pelas ruas, por exemplo, é uma péssima ideia e pode ter um final trágico junto à polícia local.
Para onde quer que se vá, há um código de vestimentas. A rigidez e o cumprimento desse código varia de lugar para lugar e de cidade para cidade. Dubai é a mais liberal de todas as cidades emiradenses. Lá, sim, não tenha medo de usar um vestido mais justo ou algo acima do joelho nas ruas. É absolutamente normal, embora, mais uma vez, não esteja de acordo com as leis locais. Já Abu Dhabi é bem mais conservadora e aqui quem foge aos códigos de como se vestir acaba recebendo olhares de reprovação e xingamentos nas ruas. Dizer que alguém vai ser presa por isso seria um imenso exagero, mas será uma situação que te deixará desconfortável. Eu, pessoalmente, prefiro não passar por isso – e também recomendo que você siga o que o país exige para não passar constrangimentos, especialmente se você está sozinha.
Inclusive, mulheres sozinhas aqui chamam a atenção. Na cultura deles, é improvável que uma mulher resolva viajar a lazer sozinha. Minha antiga professora de árabe, por exemplo, tem quase 40 anos, é solteira, e nunca viajou nem dentro do país sem a companhia de um homem da família. Logo, quando eles veem uma mulher sozinha viajando pelo país, enxergam um enorme letreiro de “liberal” na testa dela. E não que isso seja de todo negativo, mas os cuidados precisam ser redobrados.
Em emirados menores e mais conservadores, é mais delicado para uma mulher viajar sozinha. Em Sharjah, já soube de brasileiras que foram desrespeitadas por estarem sós. Durante uma viagem à Fujairah, duas amigas estavam conversando sozinhas na piscina quando foram abordadas por vários caras, que as viram como alvos “fáceis e óbvios” de assédio. Elas passaram a maior saia justa e, ao final, ninguém quis se responsabilizar: nem o segurança nem a gerência do local.
Quando eu falo que aqui os cuidados devem ser redobrados eu me refiro a isso: uma pequena ação, completamente banal aos nossos olhos ocidentais, pode tomar uma proporção grande e ruim aqui. Se você está sozinha, já possui o letreiro que falei anteriormente; se está usando vestimentas fora dos padrões locais, está se expondo de maneira deliberada e “pedindo” para ser insultada/assediada; se adota comportamentos “escandalosos”, vira um alvo fácil de julgamentos, insultos e também assédios. Em resumo, a cultura local pode te interpretar de uma forma que a coloque em situação de risco. Risco de assédios moral e sexual e também de complicações com a lei local. Você não quer isso, certo?
Por isso, por mais difícil que seja para você ter que se preocupar com o que vai vestir e como vai se portar, já que, eu sei, vai contra toda a liberdade e igualdade que buscamos, nesse caso, é melhor dançar conforme a música. Seja cuidadosa com o modo como se porta e se veste. Evite problemas com as leis locais a todo custo, pois elas são muito severas e você não quer saber o quanto sofrem as brasileiras que acabam encrencadas por aqui.
Em relação a se sentir segura no país, ao seguir as recomendações que dei anteriormente, você não terá qualquer problema. O país é muito seguro, como um todo. Você pode andar nas ruas a qualquer hora e a chance de que algo lhe aconteça é mínima, especialmente em regiões turísticas e movimentadas. Praticamente não ouvimos falar de roubos e furtos e, imagino, como brasileira você sabe bem como tomar os devidos cuidados.
Evite zonas portuárias e industriais, onde se concentra a maior parte dos trabalhadores homens. Prevenir é sempre melhor, né? Se está vindo sozinha, deixe alguém de sua confiança a par do seu roteiro e dos hotéis em que ficará, e entre em contato com ela regularmente. Também é interessante manter no celular o número de emergência do consulado brasileiro, caso ocorra alguma situação grave. Mantenha seu passaporte sempre com você, pois além de ser mais seguro, é comum ter que apresentar documentação comprovando a sua idade em estabelecimentos que vendem álcool. No mais, aproveite a sua viagem e fique tranquila, o país é rígido mas também é seguro e há muitas coisas legais para fazer aqui! Beijo grande e até a próxima.