Παρασκευή 3 Νοεμβρίου 2017

Meteora, os mosteiros suspensos da Grécia


Por Helder Lopes
Tempo de leitura:12 minutos

Há pouco mais de seiscentos anos, um monge da península do Monte Athos fundou no noroeste da...
Tessália um mosteiro. O penhasco sobre o qual se alçou o retiro ortodoxo passou a ser conhecido por “meteoros”, que em grego significa “suspenso no ar”. Durante os séculos posteriores, foram edificados nesta região da Grécia mais de vinte mosteiros, dos quais cinco sobrevivem habitados.


Os mosteiros de Meteora

Não é raro ver-se caminhantes a calcorrearem lentamente a estrada que serpenteia em direcção a norte, a partir do pequeno povoado de Kastraki, sempre com o panorama de abruptas fragas no horizonte.

Antes de avistar Agios Nikolaos, verão à esquerda as ruínas do Mosteiro de Pantokrator, um dos muitos que foram, entretanto, abandonados ao longo dos últimos trezentos anos, e do lado oposto algumas formações rochosas que caem como muralhas a pique sobre o solo. Nelas estão gravadas, como escuras feridas, algumas fendas horizontais onde se apoiam estruturas de madeira e das quais pendem restos de escadas em decomposição.

São ermitérios desertificados, grutas que ainda há algumas décadas eram habitadas por monges que nesse cenário austero e despojado buscavam mortificação. Isolados do mundo, perseguiam a plenitude espiritual subentendida numa célebre fórmula de S. João Clímaco, que definia no séc. VII um monge como “uma violação permanente da natureza e uma recusa dos sentidos”.


Escadaria de acesso aos mosteiros de Meteora

O acesso aos mosteiros de Meteora é feito, por vezes, através de longas escadarias

No séc. XIV, quando Anasthasios reuniu um pequeno grupo de monges no Mosteiro da Transfiguração – também conhecido como Megalo Meteoron ou por Metamorphosis -, já por ali havia um grande número de grutas transformadas em celas habitadas por anacoretas. O eremita Barnabé, que se instalou numa gruta perto do penedo onde viria a ser construído o Mosteiro do Espírito Santo, e Andrónico, monge de Creta, terão sido os primeiros aspirantes à santidade a escolherem este estranho lugar.

O Império Bizantino estava por esses tempos em declínio e a ameaça otomana materializava-se em frequentes incursões pelo território grego – em breve teria início, aliás, um dos períodos mais negros da história da Grécia, o da ocupação turca, que viria a prolongar-se por mais de quatrocentos anos.

A quase inexpugnabilidade dos penedos de Meteora terá representado um factor adicional para a construção de vários mosteiros em lugares ideais para fortalezas. A localização do Mosteiro da Transfiguração é um bom exemplo: o monge Anasthasios escolheu precisamente um gigantesco penedo até então conhecido por “Platis Lythos” (“rocha grande”), com mais de seiscentos metros de altitude.

As preocupações com a defesa revelaram-se, assim, tão determinantes como os desígnios religiosos que entreviam naqueles aéreos domínios uma proximidade celeste ou, pelo menos, uma circunstância propícia à requerida caminhada espiritual.

Os séculos XV e XVI foram os mais profícuos no desenvolvimento da vida monástica em Meteora, cujos mosteiros se tornaram refúgio de muitas vítimas de perseguição durante a ocupação turca. Até ao séc. XVII foram edificados vinte e quatro mosteiros, dos quais apenas cinco acolhem actualmente religiosos. Dois deles, os de Roussanou e Agios Stefanos (Santo Estêvão), são habitados por comunidades de monjas.


Pinturas e trilhos medievais

Há alguns velhos trilhos, sobreviventes dos tempos medievais, que ligam os mosteiros por entre as ravinas e vales da fantástica topografia de Meteora. São caminhos que se podem articular com percursos a realizar através da estrada asfaltada que contorna toda a área, desde Kalambaka até ao Mosteiro de Agios Stefanos, e que representam certamente a melhor forma de nos apropriarmos do espaço e da dimensão destas estalagmites gigantes voltadas para o céu.

A jornada a pé pode proporcionar, sobretudo, uma fruição mais íntima da paradoxal harmonia que irmana os vales verdejantes com os pináculos de caprichosa penedia sobre a qual se suspendem à beira de respeitáveis precipícios as ortodoxas moradias.

É um trajecto que pode perfazer cerca de nove quilómetros até ao regresso ao ponto de partida, Kalambaka ou Kastraki, as duas povoações localizadas no sopé do complexo montanhoso cuja origem remonta a mais de sessenta milhões de anos e que a erosão das águas (existia ali, então, uma laguna) e dos ventos esculpiram.



Dois dos mosteiros de Meteora são habitados por monjas

Ao contrário do que acontece com os mosteiros da península do Monte Athos, no norte da Grécia, onde só é permitida a entrada de viajantes masculinos portadores de uma autorização especial, os mosteiros de Meteora podem ser visitados mais ou menos livremente por peregrinos e curiosos não professantes da fé ortodoxa, incluindo mulheres. Ao tempo da fundação do primeiro mosteiro, chegou a ser interdito o acesso a toda a área envolvente.

Há actualmente, como é natural, espaços abertos a visitas e zonas reservadas. A afluência de gente estranha não deixa de causar algum transtorno à vida monástica, mas a disciplina e os horários rigorosos ajudam a organizar esta problemática convivência entre a ligeireza dos turistas e os desígnios de recolhimento e ascese dos monges. As áreas abertas aos visitantes correspondem geralmente aos pátios e jardins interiores, às igrejas e aos museus existentes em alguns dos cenóbios.

Os mosteiros mais interessantes são os de Megalo Meteoron e de Roussanou. Paramentos, pergaminhos, evangelhos manuscritos com belíssimas capas gravadas a ouro e prata e objectos litúrgicos fazem parte do seu precioso acervo. No Mosteiro da Transfiguração, encontramos documentos e peças de valor inestimável: evangelhos manuscritos em pergaminhos ilustrados com iluminuras (séc. XII e XIII), uma transcrição manuscrita da Liturgia de S. Crisóstomo, com belíssimas ilustrações do monge Makaios, um livro de salmos do séc. XVII, ilustrado, com a história de Alexandre da Macedónia, uma impressionante colecção de ícones medievais e alguma tapeçaria bordada pelos monges de Meteora.

No museu do Mosteiro de Roussanou, podemos ver uma colecção de cruzes esculpidas em madeira e com incrustações de prata, manuscritos de cânticos do séc. XV e manuscritos dos evangelhos em seda (séc. XVI).



Alguns monges de Meteora dedicam-se a pintar ícones

Os frescos pintados nas paredes e nos tectos das igrejas (katholikon) são outra das razões para o deslumbramento dos viajantes. Os da igreja do Mosteiro de Agios Nikolaos Anapafsas, muito belos, foram realizados pelo monge Teofanes Strelizas, de Creta, cujo filho haveria de decorar mais tarde a Catedral de Kalambaka.

Igualmente notáveis são os frescos de Varlaam e de Roussanou, mas neste capítulo, é no Mosteiro da Transfiguração que melhor se afirma a eloquência da pintura bizantina. No interior do katholikon, uma magnífica série de frescos representa a perseguição dos cristãos pelo Império Romano.

O acesso aos mosteiros é feito actualmente através de longa e estreita escadaria esculpida na pedra. Para chegar ao Mosteiro da Metamorfose, é necessário galgar mais de uma centena de toscos degraus e percorrer uma espécie de túnel íngreme entre paredes de mais de uma dezena de metros de altura.

O Mosteiro de Vaarlam fica no topo da subida de quase duas centenas de degraus, mas, tal como os outros retiros monásticos da região, só recentemente (no séc. XX), se tornou acessível por esta via. Os monges recorriam habitualmente a escadas de corda suspensas ou a elevadores de cabrestantes, ainda hoje operacionais e utilizados para fazer subir cargas pesadas.

Um dos mais espectaculares rochedos é o do Mosteiro de Agia Tríada, alcantilado no topo de um pináculo gigante, nas imediações de Kalambaka. É acessível através de uma escadaria circular de centena e meia de degraus e possui ainda uma espécie de teleférico que o liga à estrada que passa a cerca de cem metros de distância. A singular situação deste mosteiro fez dele uma estrela de andanças assaz profanas: foi palco, em 1981, da rodagem de algumas cenas de uma fita do agente 007, “For Your Eyes Only”, que na distribuição cinematográfica portuguesa teve o título “007 Missão Ultra-Secreta”.


Quadros da Grécia interior, a caminho de Meteora

O comboio rápido de Atenas para Salónica faz uma breve paragem na estação de Paleofarsalos, em Stavros, onde os passageiros podem aceder à linha ferroviária que une Volos, na costa do Egeu, a Trikala e a Kalambaka.



Junto do Mosteiro de Agia Tríade há um trilho que desce até Kalambaka

Os comboios que fazem estas ligações são composições lentas, que param em praticamente todas as estações e apeadeiros. O percurso é, todavia, aliciante, uma vez que atravessa as belas planícies verdes da Tessália. Os últimos quilómetros antes da chegada a Kalambaka são particularmente especiais, quando a planura fértil vem expirar aos pés da penedia que ampara o Mosteiro de Agios Stefanos, a quase seiscentos metros de altitude.

Kalambaka é uma povoação de pouco mais de dez mil habitantes que regista uma negra memória do tempo da Segunda Guerra Mundial, durante a qual foi praticamente destruída pela artilharia nazi. A reconstrução pouco conservou do burgo antigo (a notável excepção é a catedral, que conserva frescos do séc. XVI), mas na orla dos penedos há ruelas em que sobrevive uma certa atmosfera de povoação de montanha.

Kalambaka revela um especial encanto à noite, quando os rochedos que delimitam a face norte da vila se iluminam. Alguns dos alojamentos estão situados muito perto dos penhascos, como é o caso do Koka Koka, um hotel familiar muito popular entre os viajantes, situado junto do acesso ao trilho que conduz ao Mosteiro de Agia Tríada.

Uma taverna ao ar livre e com vista para as fragas, onde se pode degustar a gastronomia local, é outro aliciante desta pequena estalagem, modesta mas com a melhor localização na vila.


Mosteiro de Agia Tríade, Grécia

A dois quilómetros, à distância de um agradável passeio a pé, fica Kastraki, uma terreola com menos de dois mil habitantes e um dos poisos preferidos dos visitantes de Meteora. O quadro é ainda mais impressionante que em Kalambaka, com o casario branco da aldeia envolvido pela imponente penedia.

A atmosfera – tão paradigmática da vida grega nas povoações do interior – não é dissemelhante da que nos cativa em Kalambaka, onde os cafés se enchem também durante a tarde com simpáticos velhotes que se entretêm a jogar gamão e a bebericarem ouzo.

Mal a última luz da tarde se esfuma e as lojas fecham as portas, os restaurantes abrem “filiais” no passeio oposto, doravante ocupado com mesas cheias de comensais à volta de pratos fumegantes de souvlaki ou de moussaka.

É exactamente nesse cenário que o sono virá subitamente tomar de assalto o andarilho cansado da longa jornada à volta dos mosteiros de Meteora, quando toda a memória se deixa submergir no desenho inesquecível da paisagem avistada horas antes no vertiginoso mirante de Agios Stefanos.



Guia de viagens a Meteora

Este é um guia prático para viagens aos mosteiros de Meteora, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.


Como chegar a Tessália

Não faltam companhias aéreas com voos para Atenas, incluindo com escala em várias outras cidades europeias como Zurique, Roma e Madrid. Os mosteiros de Meteora situam-se na Tessália, no centro da Grécia, a cerca de 350 quilómetros de Atenas. A alternativa ao aluguer de um automóvel pode ser o comboio. O rápido para Salónica tem correspondência em Paleofarsalos (Stavros) com a linha Volos-Kalambaka. No total, são cerca de cinco horas de viagem.


Conselhos para visitar os Mosteiros de Meteora

Vale a pena visitar todos os mosteiros. Deve ter-se em atenção o vestuário e a atitude em geral durante as visitas – os viajantes devem ter presente que são locais de carácter religioso. Não são permitidas saias curtas às mulheres nem calções aos homens. Alugar um carro ou uma pequena motorizada são opções práticas para fazer o circuito, que pode totalizar cerca de uma vintena de quilómetros, já que a estrada não tem continuação depois de Agios Stefanos e é preciso fazer depois o caminho inverso.

Contudo, para quem esteja interessado em fazer o percurso a pé, há um trilho próximo de Agia Tríada que permite descer até Kalambaka, reduzindo para metade a distância a percorrer. Dois dias é o tempo mínimo requerido para visitar os mosteiros, uma vez que têm dias de abertura não coincidentes.